Um funcionário, ao sair da empresa, se esqueceu que tinha deixado sua moto travada e acabou se acidentando. Ele quebrou o cotovelo e ficou 90 dias afastado. Por ter sido em frente a empresa, foi considerado acidente de trabalho e o novo procedimento interno da empresa exige que para todo acidente de trabalho seja feita uma análise de causa raiz e criado um plano de ação para que o mesmo não volte a ocorrer.
Como defensor da melhoria contínua eu utilizo muito a metodologia Toyota Kata e a análise de problemas e plano de ação. Porém, isso deve ser feito com o real intuito em que foi pensado, para se resolver problemas e não fazer apenas porque alguém disse que precisa. É isso que chamo de buRRocracia: o fazer por fazer, o fingir que faço enquanto alguém finge que acredita que faço e todos ficam felizes com seus relatórios preenchidos mas nada sendo resolvido de verdade.
Nesse fingimento que toma conta das corporações hoje em dia, surgiu algo bizarro no caso relatado acima. Uma análise de 5 porquês e diagrama de Ishikawa (????) . Alguém tem dúvida da causa do acidente? Ninguém, mas a burocracia diz que precisa preencher e nessa surgem como possíveis causas as coisas mais absurdas que nada tem a ver com o ocorrido. Mas isso não importa, importa que o procedimento seja seguido e o relatório preenchido.
Mas o melhor foi o plano de ação. O mesmo dizia que o gestor, no caso EU, teria que orientar o funcionário para que não ocorresse novamente o mesmo acidente. Ninguém entrou em contato perguntando minha opinião ou conversou comigo como deveria ser feita essa orientação. Mas isso não importa desde que o plano de ação esteja escrito em algum lugar e a burocracia seja satisfeita.
Se tivessem feito isso, talvez saberiam que nunca andei de moto e não faço a mínima ideia de como se trava e se destrava a mesma. Mas será que isso importaria? Será que se tivessem me ligado, teriam mudado o plano de ação? Tendo a acreditar que não e até a imaginar como seria a conversa:
- Bom, dia Marcelo estou ligando para dizer que fizemos o plano de ação e você precisa orientar o fulano a como destravar a moto.
- Mas eu não sei como fazer isso.
- Mas está no plano de ação e a auditoria exige que você faça.
- Mas como o plano de ação pode dizer que alguém deve orientar algo que não sabe? Isso não faz o menos sentido e deve ser revisto.
- Marcelo, você está sendo inflexível. Custa você dizer que orientou, preencher o relatório e pronto?
Só faço algo se for efetivo. Eu não trabalho para preencher relatório de quem quer que seja; - Bom então a auditoria vai entrar em contato com você, porque não dá para conversar desse jeito. Está criando encrenca a toa. Você precisa mudar essa postura. Não é a primeira vez que você contesta algum procedimento que é exigido pela auditoria. Escreve qualquer coisa e coloca qualquer data. Ninguém vai saber mesmo.
- Se for para fazer de qualquer jeito, significa que não precisa ser feito e o procedimento deve ser revisto. Não farei.
- Tchau Marcelo, não dá para conversar com você. Acerta com a auditoria ou diretoria.
- Se quiser, posso dizer o mesmo para o Presidente, mas desse jeito não farei
- Tu tu tu tu tu …